quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Vale a pena ser quem somos!


Nasci no dia 19/12/1980, meus pais e médicos me designaram como do sexo masculino, me deram o nome de Bruno Leonardo e me criaram como um menino. Só que esse menino desde muito pequeno sempre teve muita vergonha do seu corpo, uma vergonha que não entendia o porquê, só sentia. Não suportava que homens e meninos o vissem sem roupa, nem mesmo o seu irmão 3 anos mais velho, um determinado dia quando no pátio da sua escola todos os meninos e meninas iriam tomar banho de mangueira e tinham que colocar as roupas de banho uns na frente dos outros, esse menino com uma vergonha tão grande do seu corpo se recusou, chorou e não deixou que a professora tirasse sua roupa rara vestir sua sunguinha. Gostava de brincar com bonecas, casinha, com brinquedos tidos como "de menina" mas também gostava de carrinho, barquinhos e alguns brinquedos tidos como "de menino", não gostava de brincadeiras violentas, bola, jogar pedras nos coleguinhas. Era um menino tímido, meigo e que se sentia muito mais à vontade ao lado de meninas e mulheres. Conforme crescia cada vez mais se identificava com personagens femininas de desenhos, novelas, filmes, series, livros e ainda mais com personagens de mulheres guerreiras, a frente do seu tempo, que tinham que lutar contra o machismo, racismo, falso moralismo religiosos e de costumes. Quando mudou-se para Juiz de Fora MG no ano de 1991 já com dez anos começou a sofrer com o bullying na escola, os colegas começaram com as piadinhas, começou a conhecer as palavras viadinho , boiolinha , bichinha , a escutar : "vira homem" , "fala que nem homem" , "senta que nem homem" e por aí vai. Como se não bastasse escutar tudo isso na escola teve que escutar tudo isso e mais um pouco de seu pai em uma tentativa de destruir a feminilidade que se aflorava cada vez mais de forma tão intensa e natural e que esse menino nunca quis esconder por não considerar em nenhum momento que estivesse fazendo algo de errado. Foram 8 anos estudando em uma escola , sofrendo com a perseguição que aumentou ao longo dos anos e que aniquilou sua capacidade de concentração nos estudos , que fizeram que repetisse de ano duas vezes e que acabaria com a capacidade de se submeter a qualquer tipo de avaliação seja vestibular , concurso público. Por não ter nenhuma profissão nem qualificação teve que trabalhar com seu pai quando tinha 22 anos , durante dois anos trabalhou como promotor de vendas repondo mercadorias em supermercados , em um ambiente super masculino convivendo com homens e novamente sofrendo todo tipo de perseguição homofóbica. No ano de 2005 foi convidado para ir em uma festa de formatura de sua amiga que estava se formando no curso de direito , a festa foi linda , as amigas estavam lindas mas o Bruno Leonardo estava sufocado em um terno , se sentindo muito mal por estar vestindo uma roupa que não se identificava. Depois dessa festa o Bruno decidiu correr a traz da sua felicidade que era se tornar uma mulher por inteiro , transformar o seu corpo. Foram muitas conversas com uma amiga desabafando sobre o desejo de poder ser quem realmente era e no final do mesmo ano essa mesma amiga assistiu uma reportagem em que contava que a cirurgia de readequação sexual estava sendo realizada pelo SUS no Rio Grande do Sul depois disso decidiu procurar o MGM (Movimento Gay de Minas) para procurar saber se a cirurgia não poderia estar sendo realizada em alguma cidade mais próxima de Juiz de Fora , foi la que o Bruno ficou sabendo que poderia fazer uso do Nome Social e o Bruno que já era chamado pelas amigas de Bruna quando estavam longe de outras pessoas começou a se tornar a Bruna Leonardo. No ano seguinte ouviu de uma pessoa que trabalhava no MGM que tinha uma assistente social que trabalhava no SUS que conhecia um homem trans que estava em tratamento na cidade do Rio de Janeiro , nesse mesmo ano assumi minha identidade de gênero para minha família , amig@s e sociedade . A assistente social me encaminhou para o Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ e no ano de 2007 entrei no programa do mesmo hospital para o processo transexualizador , foram 2 anos de acompanhamento com o psiquiatra com consultas de 3 em 3 meses para pegar o laudo com o diagnóstico de transtorno de identidade de gênero e mais ou menos 4 consultas por ano com a equipe de urologia que opera e prescreve os hormônios. Foram 6 anos de espera pela cirurgia e no dia 25 de janeiro de 2013 fui submetida a cirurgia de readequação sexual , a cirurgia foi um sucesso e não senti dor em nenhum momento e tive uma ótima recuperação. No mesmo ano passei pelo procedimento de depilação a laser no rosto e assim pude em fim depois de 23 anos me olhar no espelho e me reconhecer enquanto mulher. Estou cada dia mais em paz com meu corpo , com a minha imagem , cada dia mais feliz e realizada!!! Hoje posso dizer que me chamo Bruna Leonardo que sou uma mulher transexual , guerreira , militante , feminista , bruxa , descendente de índios e com sangue baiano correndo nas veias , que encontrou na militância LGBTI um sentido para vida e uma forma de lutar para que tod@s possam ser quem realmente são independente do que os outros vão pensar , independente se estão nadando contra a maré, vale muito a pena lutar por nossos sonhos e sermos quem realmente somos!!!

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