sábado, 29 de agosto de 2015

Visibilidade lésbica: vamos falar de saúde?

Falar em visibilidade lésbica inclui pensar em como essas mulheres vivem e experienciam suas vidas na contemporaneidade, inclusive no domínio dos seus corpos e da saúde. Mas vamos pensar um pouco sobre o percurso que a sexualidade feminina vem traçando com a emergência de aparatos em saúde desenvolvidos pelo Estado a partir do século XIX? 
Nunca se falou e se produziu tanto sobre sexo e sobre sexualidade desde a emergência das especialidades biomédicas, como a ginecologia, a sexologia e a psiquiatria. E foi a partir do século XIX que essa tecnologia interviu tanto naqueles corpos que eram considerados necessitados de tutela do Estado, da escola e dos cientistas, que estavam constantemente em perigo, lembrando que as forças normativas se colocavam no jogo do biopoder enquanto forças masculinas. Quais eram esses tutelados saturados de sexualidade? A criança masturbadora, os casais heterossexuais que praticavam sexo se valendo de métodos contraceptivos, e os perversos. Os perversos quem eram? Todos aqueles com algum tipo de prática desviante não heterossexual, que praticavam sodomia. 
O corpo da mulher foi visto e entendido, desde então, como aquele para procriar e para compor junto à sociedade seu papel passivo e ligado à natureza, maternal, do cuidado e do lar. Como podemos pensar a sexualidade e a saúde sexual das mulheres lésbicas nesse contexto? Foi patologizada e invisibilizada, poderia se dizer. A mulher lésbica não está em um relacionamento que permita, a priori, cumprir esse papel passivo e maternal. Ela se torna uma figura transgressora nessa dinâmica dos papéis sexuais. Com a emergência dos movimentos de contracultura da década de 60 algumas importantes mudanças aconteceram no cenário ocidental, o que inclui o nosso país. Mulheres da classe média começaram a ocupar de forma mais vigorosa o mercado de trabalho, os métodos contraceptivos hormonais, como a pílula, permitiram maior liberdade na escolha do momento de ter filhos, e o movimento feminista e homossexual iniciou suas lutas nos campos de direitos, etc. 
Em todo esse cenário de luta, onde está a mulher lésbica? De forma marginal, pode-se se dizer que essa mulher estava no Brasil tanto nos movimentos feministas quanto nos movimentos homossexuais. Mas as pautas de direitos sexuais passaram a se concentrar de forma muito mais fortemente ligada ao planejamento reprodutivo enquanto contracepção e ao direito ao aborto para mulheres com práticas sexuais heterossexuais e nas políticas públicas ligadas ao HIV/Aids, que emergiu a partir da década de 80. E hoje, as demandas das mulheres que se envolvem com mulheres continuam marginais e inviabilizadas. 
Para além das políticas públicas, pensemos nos contextos micropolíticos. Você, mulher lésbica (ou que está em um relacionamento com outra mulher), como se sente ao procurar um serviço de saúde? E quando vai a uma consulta com um profissional médico ou da enfermagem? Situações de inadequação nos atendimentos são corriqueiros e variados, seja porque a mulher não se sente a vontade para falar de sua sexualidade, seja pelo julgamento velado, ou pelas outras violências simbólicas e até físicas que podem ocorrer. Há relatos como a insistência ou até a invasão ao se fazer uma ultrassonografia transvaginal em mulheres que não se sentem a vontade com esse procedimento porque nunca foram penetradas, por exemplo. Outra questão importante, mulheres lésbicas são atendidas em suas dúvidas quando pedem dicas para se prevenirem contra doenças sexualmente transmissíveis e contra o HIV? Sim, sexo entre mulheres pode transmitir doenças, e não há tecnologia desenvolvida para proteger adequadamente e preservar o prazer de forma satisfatória. 
E quando pensamos nas mulheres transexuais que se relacionam com outras mulheres, sejam elas trans ou cissexuais? Parece que a situação é ainda mais nebulosa, para me valer de um eufemismo. A população transgênero é carente de quase todo tipo de atenção, que quando vem, surge na forma de estigma. Estão essas mulheres orientadas quanto às suas questões de saúde? Creio que não. 
Mulheres trans, acho que podemos fazer um texto somente para vocês, que tal?

Texto por Marina Guimarães

6 comentários:

  1. Adorei o texto! Concordo com tudo!
    Mulheres lésbicas não são orientadas em relação sexo X saúde

    ResponderExcluir
  2. certeza que tanto a autora do texto quanto a do post sentaram no teclado pra fazer isso com o cu, é humanamente impossível produzir tanta merda com as mãos.

    ResponderExcluir
  3. Nossa, pelos comentários, ja decidi que nem vou ler essa merda....

    ResponderExcluir