sábado, 10 de janeiro de 2015

Não é questão de escolha, é quesito de vida


Juber Marques Pacífico



Com o passar do tempo, me tornei mais intolerante com o uso indiscriminado de alguns termos que carregam em si um enorme arcabouço de ignorância e preconceito. Muitas vezes o seu uso é inconsciente e natural, não pretende, a priori,  atingir o interlocutor, mas é exatamente o que ocorre quando o outro é desprovido da mesma ignorância.

Das formas mais habituais de se referir à sexualidade alheia, duas se sobressaem como as mais usadas: “orientação”e “opção”. Ouço pessoas, a todo momento, dizendo “orientação sexual” e/ou “opção sexual”. Não! Ninguém me ensinou a ser viado, não precisei de orientação de nenhum professor de bichice e muito menos estudei em uma escola voltada para tal formação. Fizeram da sexualidade um título e,  como tal, se criou um processo natural para a sua validação.
Considerar a concepção da sexualidade como resultante de interação entre “eu” e os fatores externos é o mesmo que afirmar que os héteros, os homo, os/as trans, são o que as orientações da família, da escola, ou seja, de toda a sociedade o fizeram ser.
O outro termo é tão pior quanto o primeiro. Usar “opção sexual” é uma aberração. Minha intolerância vai a níveis estratosféricos. Novamente, o uso de uma simples palavras que pode fazer prevalecer a ideologia do preconceito e da discriminação. Não estou exagerando, é no discurso que moram as incontestáveis provas de ignorância sobre o tema. 
“Opção”, segundo o dicionário Aurélio, quer dizer: “s.f. Faculdade, ação de optar, de escolher entre duas ou várias coisas”. Que me apresente o gay ou hétero ou trans ou bi que escolheu a sua sexualidade. Sexualidade não é uma prova, não é um show do milhão.
Essas formas de se referir a sexualidade do outro (diferente) é o modo pelo qual a sociedade machistofóbica encontrou para culpar o discriminado pela discriminação que ora sofre, de culpar o diferente pela diferença peculiar que demonstra. Essa é a forma encontrada de penalizar o oprimido pela opressão sofrida.
Bem, o termo que deve ser usado sempre é o da “condição sexual”. Somos condicionados a tudo em nossa vida e a sexualidade não é diferente. Para sermos felizes somos condicionados à liberdade de expressar o nosso verdadeiro “eu”. A felicidade é o único objetivo da vida, todo o resto é periférico. A sexualidade é parte fundamental para tornar concreta essa felicidade. Ninguém pode ser feliz sendo reprimida(o) ou se reprimindo. A sexualidade existe porque o gênero não basta.
“Condição sexual” é aceitar que temos determinadas atrações que nem mesmo a religião, nem a ciência, nem a natureza são capazes de explicar. Não é questão de escolha, é quesito de vida. A sexualidade está no rol das necessidades intrínsecas e universais, fugir ou negar tal fato é incendiar com preconceitos a condição sexual do outro e de si próprio.
Estamos condicionados eternamente a buscar a felicidade. Para alcançarmos tal feito é preciso entender nossas condições e as condições dos outros. Ninguém é ensinado a ser A, B ou H. Ninguém escolhe entre T, C ou S. Mas, todos nós somos condicionados à buscar a felicidade naquilo que existe de mais íntimo, profundo e natural.  

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