quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Estamos proibidos de convergir à esquerda, o sinal está aberto para o retorno

Juber Marques Pacífico




O brasileiro foi às urnas e, em uma escolha binária entre progressismo e conservadorismo, optou por aquilo que parece ser a fotografia atual da sociedade.  Conservador! Sim, a nossa população, em sua imensa maioria, demonstrou que o melhor é conservar as tradições morais recebidas, em grande parte pela igreja, e que ainda estão impregnadas na alma do povo verde-amarelo.

O resultado disso foi a eleição do Congresso Nacional mais conservador desde 1964, ano em que o trabalhador brasileiro tomou um golpe mortal com a instalação da ditadura no país. Estamos piores que na ditadura. Lógico que existe um certo exagero da minha parte, mas também não estamos tão longe dessa realidade. Colocamos como nossos representantes na Câmara dos deputados e no Senado, pessoas que representam os setores mais fascistas, reacionários e antidemocráticos que existem no país. Muitos desses eleitos são verdadeiros representantes da mesma ideologia que matou judeus, que escravizou os negros e que torturou a nossa gente durante os tenebrosos anos de 1964 a 85.

Não esperem nenhuma política progressista deste congresso eleito. Seria utopia de mais de nossa parte esperar ações progressistas de direitistas conservadores e ultrarreacionários. Não quero acabar com esperanças, quero ser um balde de realismo naqueles que ainda estão dormindo e sonhando com utopias utopistas.

No retrato do retrocesso estão o Bolsonaro, deputado mais votado no Rio e que conseguiu eleger junto consigo todo o seu clã demagógico; o Marco Feliciano, um dos deputados mais votados de São Paulo; junto deles está o Malafaia, temperamental e retrógrado cabo eleitoral  pró-evangélicos; e tem mais, muito mais. Quem venceu essas eleições no panorama geral foram os fundamentalistas. Parabéns! A única coisa que se é de admirar nos evangélicos é o seu senso de comunidade, e isso que falta em nós, não somos comunidade, não nos reconhecemos como iguais em propósitos. As “minorias” no Brasil não se identificam à sua própria causa e, muitas vezes, elas ajudam a colocar no poder o tirano que contra ela irá se voltar na primeira oportunidade. 

Repito: não esperem ações progressistas dos políticos eleitos este ano, pois isso é sonho de mais. Em certos níveis o sonho se transforma em burrice, cuidado! Temos pouco, ou quase nenhuma escolha. Pautas importantes como o casamento igualitário LGBT, a lei João Nery, a criminalização da homofobia, a questão do aborto, das drogas... Todo esse mundo de legislações que poderia transformar a vida de milhões de brasileiros, esquece.

Não sou pessimista, sou pragmático. Pragmatismo é reconhecer que vivemos em uma sociedade onde uma grande parte é egoísta, homofóbica, racista e que tem horror às transformações, pois, além disso, é também covarde.

A eleição de Jean Wyllys foi, para mim, uma faisquinha de esperança que brotou no meu peito, mas logo se apagou, pois, como diz o ditado, “uma andorinha só não faz verão”.  Desejo muita coragem a ele, sua tarefa nos próximos anos será de extrema dificuldade.  Enquanto nossa população negra, pobre e LGBT sofrem nas ruas as violências cotidianas, os nossos parlamentares estão resguardados dentro das fortalezas do poder que é Brasília.

O que está acontecendo com a nossa população? Como pode um povo tão amável e alegre como o povo brasileiro se mostrar tão conservador? Como pode? Será que só na hora do carnaval que esquecemos as diferenças e universalizamos o direito à felicidade alheia?

O jeito é correr, não da luta, mas para a luta. Temos que ocupar novamente as ruas, as praças, temos que mostrar que estamos aqui e que nenhuma ditadura político-religiosa nos calará. Temos que mostrar para os LGBTs que quando perdemos um gay por conta da violência, estamos perdendo um pouco de todos àqueles que compartilham da mesma prática de vida.

A história e a memória existem para nos mostrar o que foi, e pra permitir que não se faça do futuro o que ele era no passado. A tarefa não é fácil. Sinto que com a resistência do Congresso em aprovar projetos pró-minorias o jeito será recorrer, novamente, ao também reacionário judiciário, e esperar que os juízes de capa preta decidam o futuro das opressões no Brasil.

Vemos nesse segundo turno a união de toda a Direita-fascista em torno do candidato filho da burguesia. Do outro lado temos a inércia de uma candidatura que fica em cima do muro nas questões progressistas. E o povo vai ser penalizado de novo, como sempre foi. O mais triste é saber que o povo que vai sofrer os efeitos do endireitamento do Brasil, é o mesmo povo que elegeu a Direita como a guardiã da tradição, dos “bons costumes” e da política no Congresso Nacional. O Brasil está cada vez mais direito e o povo cada vez gosta mais de coxinha. Estamos proibidos de convergir à esquerda, o sinal está aberto para o retorno.  Viva! 

*Quando digo "progressista", entende-se "avanços sociais, igualitários e de direitos".

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