Juber Marques Pacífico
O brasileiro foi às urnas e, em
uma escolha binária entre progressismo e conservadorismo, optou por aquilo que
parece ser a fotografia atual da sociedade. Conservador! Sim, a nossa população, em sua
imensa maioria, demonstrou que o melhor é conservar as tradições morais
recebidas, em grande parte pela igreja, e que ainda estão impregnadas na alma
do povo verde-amarelo.
O resultado disso foi a eleição
do Congresso Nacional mais conservador desde 1964, ano em que o trabalhador brasileiro
tomou um golpe mortal com a instalação da ditadura no país. Estamos piores que na
ditadura. Lógico que existe um certo exagero da minha parte, mas também não
estamos tão longe dessa realidade. Colocamos como nossos representantes na
Câmara dos deputados e no Senado, pessoas que representam os setores mais
fascistas, reacionários e antidemocráticos que existem no país. Muitos desses
eleitos são verdadeiros representantes da mesma ideologia que matou judeus, que
escravizou os negros e que torturou a nossa gente durante os tenebrosos anos de
1964 a 85.
Não esperem nenhuma política
progressista deste congresso eleito. Seria utopia de mais de nossa parte
esperar ações progressistas de direitistas conservadores e ultrarreacionários.
Não quero acabar com esperanças, quero ser um balde de realismo naqueles que
ainda estão dormindo e sonhando com utopias utopistas.
No retrato do retrocesso estão o
Bolsonaro, deputado mais votado no Rio e que conseguiu eleger junto consigo
todo o seu clã demagógico; o Marco Feliciano, um dos deputados mais votados de
São Paulo; junto deles está o Malafaia, temperamental e retrógrado cabo
eleitoral pró-evangélicos; e tem mais,
muito mais. Quem venceu essas eleições no panorama geral foram os
fundamentalistas. Parabéns! A única coisa que se é de admirar nos evangélicos é
o seu senso de comunidade, e isso que falta em nós, não somos comunidade, não
nos reconhecemos como iguais em propósitos. As “minorias” no Brasil não se
identificam à sua própria causa e, muitas vezes, elas ajudam a colocar no poder o
tirano que contra ela irá se voltar na primeira oportunidade.
Repito: não esperem ações
progressistas dos políticos eleitos este ano, pois isso é sonho de mais. Em
certos níveis o sonho se transforma em burrice, cuidado! Temos pouco, ou quase
nenhuma escolha. Pautas importantes como o casamento igualitário LGBT, a lei
João Nery, a criminalização da homofobia, a questão do aborto, das drogas... Todo
esse mundo de legislações que poderia transformar a vida de milhões de
brasileiros, esquece.
Não sou pessimista, sou
pragmático. Pragmatismo é reconhecer que vivemos em uma sociedade onde uma
grande parte é egoísta, homofóbica, racista e que tem horror às transformações,
pois, além disso, é também covarde.
A eleição de Jean Wyllys foi,
para mim, uma faisquinha de esperança que brotou no meu peito, mas logo se
apagou, pois, como diz o ditado, “uma andorinha só não faz verão”. Desejo muita coragem a ele, sua tarefa nos
próximos anos será de extrema dificuldade.
Enquanto nossa população negra, pobre e LGBT sofrem nas ruas as violências
cotidianas, os nossos parlamentares estão resguardados dentro das fortalezas do
poder que é Brasília.
O que está acontecendo com a
nossa população? Como pode um povo tão amável e alegre como o povo brasileiro se
mostrar tão conservador? Como pode? Será que só na hora do carnaval que
esquecemos as diferenças e universalizamos o direito à felicidade alheia?
O jeito é correr, não da luta, mas para a luta. Temos que ocupar novamente as ruas, as praças, temos que mostrar que estamos aqui e que nenhuma ditadura político-religiosa nos calará. Temos que mostrar para os LGBTs que quando perdemos um gay por conta da violência, estamos perdendo um pouco de todos àqueles que compartilham da mesma prática de vida.
A história e a memória existem
para nos mostrar o que foi, e pra permitir que não se faça do futuro o que ele
era no passado. A tarefa não é fácil. Sinto que com a resistência do Congresso
em aprovar projetos pró-minorias o jeito será recorrer, novamente, ao também
reacionário judiciário, e esperar que os juízes de capa preta decidam o futuro
das opressões no Brasil.
*Quando digo "progressista", entende-se "avanços sociais, igualitários e de direitos".
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