Nasci no dia
19/12/1980, meus pais e médicos me designaram como do sexo masculino, me deram
o nome de Bruno Leonardo e me criaram como um menino. Só que esse menino desde muito pequeno sempre teve muita vergonha do seu
corpo, uma vergonha que não entendia o porquê, só sentia. Não suportava que
homens e meninos o vissem sem roupa, nem mesmo o seu irmão 3 anos mais velho,
um determinado dia quando no pátio da sua escola todos os meninos e meninas
iriam tomar banho de mangueira e tinham que colocar as roupas de banho uns na
frente dos outros, esse menino com uma vergonha tão grande do seu corpo se
recusou, chorou e não deixou que a professora tirasse sua roupa rara vestir sua
sunguinha. Gostava de brincar com bonecas, casinha, com brinquedos tidos como
"de menina" mas também gostava de carrinho, barquinhos e alguns
brinquedos tidos como "de menino", não gostava de brincadeiras
violentas, bola, jogar pedras nos coleguinhas. Era um menino tímido, meigo e
que se sentia muito mais à vontade ao lado de meninas e mulheres. Conforme
crescia cada vez mais se identificava com personagens femininas de desenhos,
novelas, filmes, series, livros e ainda mais com personagens de mulheres
guerreiras, a frente do seu tempo, que tinham que lutar contra o machismo,
racismo, falso moralismo religiosos e de costumes. Quando mudou-se para Juiz de
Fora MG no ano de 1991 já com dez anos começou a sofrer com o bullying na escola, os colegas começaram com as piadinhas,
começou a conhecer as palavras viadinho , boiolinha , bichinha , a escutar :
"vira homem" , "fala que nem homem" , "senta que nem
homem" e por aí vai. Como se não bastasse escutar tudo isso na escola teve
que escutar tudo isso e mais um pouco de seu pai em uma tentativa de destruir a
feminilidade que se aflorava cada vez mais de forma tão intensa e natural e que
esse menino nunca quis esconder por não considerar em nenhum momento que
estivesse fazendo algo de errado. Foram 8 anos estudando em uma escola ,
sofrendo com a perseguição que aumentou ao longo dos anos e que aniquilou sua
capacidade de concentração nos estudos , que fizeram que repetisse de ano duas
vezes e que acabaria com a capacidade de se submeter a qualquer tipo de
avaliação seja vestibular , concurso público. Por não ter nenhuma profissão nem
qualificação teve que trabalhar com seu pai quando tinha 22 anos , durante dois
anos trabalhou como promotor de vendas repondo mercadorias em supermercados ,
em um ambiente super masculino convivendo com homens e novamente sofrendo todo
tipo de perseguição homofóbica. No ano de 2005 foi convidado para ir em uma
festa de formatura de sua amiga que estava se formando no curso de direito , a
festa foi linda , as amigas estavam lindas mas o Bruno Leonardo estava sufocado
em um terno , se sentindo muito mal por estar vestindo uma roupa que não se
identificava. Depois dessa festa o Bruno decidiu correr a traz da sua
felicidade que era se tornar uma mulher por inteiro , transformar o seu corpo.
Foram muitas conversas com uma amiga desabafando sobre o desejo de poder ser
quem realmente era e no final do mesmo ano essa mesma amiga assistiu uma
reportagem em que contava que a cirurgia de readequação sexual estava sendo realizada
pelo SUS no Rio Grande do Sul depois disso decidiu procurar o MGM (Movimento
Gay de Minas) para procurar saber se a cirurgia não poderia estar sendo
realizada em alguma cidade mais próxima de Juiz de Fora , foi la que o Bruno
ficou sabendo que poderia fazer uso do Nome Social e o Bruno que já era chamado
pelas amigas de Bruna quando estavam longe de outras pessoas começou a se
tornar a Bruna Leonardo. No ano seguinte ouviu de uma pessoa que trabalhava no
MGM que tinha uma assistente social que trabalhava no SUS que conhecia um homem
trans que estava em tratamento na cidade do Rio de Janeiro , nesse mesmo ano
assumi minha identidade de gênero para minha família , amig@s e sociedade . A
assistente social me encaminhou para o Hospital Universitário Pedro Ernesto da
UERJ e no ano de 2007 entrei no programa do mesmo hospital para o processo
transexualizador , foram 2 anos de acompanhamento com o psiquiatra com
consultas de 3 em 3 meses para pegar o laudo com o diagnóstico de transtorno de
identidade de gênero e mais ou menos 4 consultas por ano com a equipe de
urologia que opera e prescreve os hormônios. Foram 6 anos de espera pela
cirurgia e no dia 25 de janeiro de 2013 fui submetida a cirurgia de readequação
sexual , a cirurgia foi um sucesso e não senti dor em nenhum momento e tive uma
ótima recuperação. No mesmo ano passei pelo procedimento de depilação a laser
no rosto e assim pude em fim depois de 23 anos me olhar no espelho e me
reconhecer enquanto mulher. Estou cada dia mais em paz com meu corpo , com a
minha imagem , cada dia mais feliz e realizada!!! Hoje posso dizer que me chamo
Bruna Leonardo que sou uma mulher transexual , guerreira , militante ,
feminista , bruxa , descendente de índios e com sangue baiano correndo nas
veias , que encontrou na militância LGBTI um sentido para vida e uma forma de
lutar para que tod@s possam ser quem realmente são independente do que os
outros vão pensar , independente se estão nadando contra a maré, vale muito a
pena lutar por nossos sonhos e sermos quem realmente somos!!!
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